«Por volta das quatro da manhã abro a janela; tinha-me esquecido do ar, do seu papel de tapete nas minhas noites.»
Este Livro de Horas representa o regresso ao Diário contínuo — e múltiplo, com as mais variadas «espirais» de vivências e formas de escrita que acompanham os dias. São os tempos do regresso de um exílio de vinte anos, que agora se continua em Colares em novas formas de exílio interior em relação a um país, e à sua língua e cultura, lidos do avesso. É sobretudo um tempo em que a Casa e o mundo envolvente, do pinhal e do mar, constituem uma obsessão que alimenta grande parte da escrita, paralelamente ao nascimento do livro premiado Um Beijo Dado Mais Tarde (1990). As paisagens verbais que o Diário agora acolhe, como telas em variantes sem fim, são espirais de escrita num registo mais visionário e surrealizante, «fruto do impossível», muito mais frequente e acentuado do que nos Livros de Horas anteriores. [João Barrento]