«Porque os livros são os companheiros que sempre me procuram.»
— M. G. Llansol
Este novo Livro de Horas, preenchido pela escrita de Maria Gabriela Llansol nos espaços livres — margens para ela expectantes — de uma boa parte dos livros que leu, e que hoje se encontram na biblioteca que deixou, vive de um sector literalmente «marginal» (mas não menos significativo) de toda a sua escrita inédita.
Estabelece-se, assim, nas onze partes em que o organizámos, uma imediata conexão, que Llansol por mais de uma vez destaca, entre o acto de ler e o impulso de escrever. Trata-se de um gesto diferente, e único, de escrita a partir da leitura, para o qual a autora inventa um novo verbo: escreler. Partindo da distinção (e complementaridade) entre a escrita que nasce do olhar sobre o mundo (que em Llansol pode ser o da imanência das coisas ou o do curso da História) e aquela cuja origem primeira é o livro alheio, chegamos a essa dupla forma de escrita-leitura: a do escre-ver (o livro do mundo) e a do escre-ler (o livro do outro).