"Paixões Passadas" reúne trinta e um textos do escritor Javier Marías, que o próprio subdivide em secções: "Três Cidades, um Bairro e uma Casa", "Cinco Retratos", "Assuntos Vitais e Assuntos Mortais", "Assuntos não muito Literários" e "Uma Despedida", que integra o texto inédito "A Dificuldade de Perder a Juventude".
A prosa destes escritos não é muito diferente da dos romances de Javier Marías. Tanto pode invocar as cidades onde viveu, como Veneza e Oxford, Barcelona ou Madrid, retratar personagens, falar da actualidade espanhola, dos inconvenientes e benefícios do amor nos dias que correm, da cada vez maior dificuldade de insultar, das falsificações literárias ou dos vícios dos críticos.
Textos arrebatados, entusiasmados, apaixonados, irónicos (mesmo trocistas: leia-se por exemplo a deriva que parte do combate dos não fumadores contra os fumadores, em que Javier Marías declara, já agora, a sua necessidade de protecção contra os automobilistas como não condutor que é - e se, de facto, os carros são úteis, também os cigarros o são para aqueles que fumam -, contra os donos dos cães e os próprios cães, na sua qualidade de não dono de cão que se vê ameaçado com alguma mordidela ou quando pisa caca nos passeios, contra os donos das lojas, na sua qualidade de não dono de loja, quando os alarmes anti-roubo começam a tocar desalmadamente perturbando o sossego e retirando o sono, contra os consumidores de pastilha elástica, que deixam as suas gomas coladas por toda a parte, estragando-nos a roupa ou provocando-nos urticária, na sua qualidade de não consumidor de pastilha elástica, etc., etc., numa lista que pode tornar-se interminável).
