"Os erros? São eles que permitem compreender a situação do aluno a braços com a formidável máquina de ensino; quer dizer, do seu funcionamento psíquico real face a um saber, mas também compreender qual é a natureza desse saber e as modalidades da sua transmissão. Os erros? São o fio a partir do qual se poderia desenredar a actual meada onde se misturam, de momento de modo inextricável, "investigações" em pedagogias, atitudes tradicionalmente dogmáticas, crença em milagres de que seriam capazes os computadores...Os erros? Se eles deixassem de ser desqualificantes, vergonhosos, para se tornarem objecto de saber para o professor, dinâmica de saber para o aluno que aprenderia quais as lógicas que o levaram a responder como o fez, e qual a lógica à qual essas lógicas, legitimadas e depois recusadas, darão lugar, então o sentido começará a circular na aula de matemáticas, dissipando o clima de angústia, de inércia, de rejeição ou de violência em que vive a maior parte dos alunos."
Do Posfácio de 1986