"Uma noite ouvi o som cavo de uma sirene no rio, um apelo ao mesmo tempo distante e irrecusável e vesti-me com gestos ainda adormecidos.
Os carris dos eléctricos brilhavam numa escuridão tranquila. uma névoa vinha do Tejo trazendo consigo gaivotas que invadiam de pesados voos a Alfama e subiam até à Graça, como se ali continuasse o rio.
Os seus voos eram a presença das águas invisíveis, o tejo desviado sobre a cidade, perdido no seu casario e ruas estreitas, lenta corrente desaguando no mar da noite, o único para onde confluem todos os terrores da memória.
Ao longe um vulto caminhava na minha direcção e mesmo antes de escutar de novo a sirene do navio suspeitei que matara Cláudia apenas para a poder preservar a sua beleza."