A. Freire Valente, nascido em Lisboa em 1956, é autor de dois romances, retrato do Biógrafo e Pássaro Pesado de Sal, e ainda dum livro de contos, necrologias.
A Associação Portuguesa de escritores distinguiu em 1981 com o Prémio Revelação a sua obra Para um Romance de Clara.
«Já acabou o almoço, estamos sentados cá fora, está calor, bebo lentamente um cálice de aguardente. Clara irá contar o crime.
— Foi lá em baixo, junto à arrecadação das alfaias. Nessa altura, podia-se dizer que era o meio da quinta; hoje, com os bulldozers e a construção civil, quase lhe marca os limites. Era de noite e chovia torrencialmente. Um táxi subiu a estrada, passou pelo pomar, entrou aqui no pátio. Todos estavam deita- dos. O passageiro saiu do táxi e chamou. Alguém veio à janela. Queria saber se era ali que morava o tenente Bandeira. A pessoa que estava à janela disse que não. Mas o homem insistia. Bandeira, tenente Bandeira. E o da janela, furioso do sono interrompido, mandou-o à vila, ao quartel, onde o poderiam informar.
E o homem reentrou no táxi, disse qualquer coisa ao motorista e partiram.»