O testemunho que Calamity Jane deixa à sua filha, em forma de cartas, é tocante na descrição da coexistência de duas realidades: a luta de uma mulher pela sobrevivência num mundo Western profundamente duro e masculino, papel que assumiu e cumpriu de forma exímia, nunca perdendo, no entanto, o seu outro lado, mais frágil, mais emotivo, mais afectuoso, e que se revela em toda a sua dimensão neste diário à filha. Mito feminino do oeste selvagem, Calamity Jane manifesta na sua escrita uma rebeldia natural de quem vive num mundo de homens e uma angústia provocada em boa parte pela insegurança de não se ter realizado no papel da maternidade depois de ser visto obrigada a entregar a sua filha em tenra idade. Confrontada no seu interior com a ausência de cuidado e afecto maternal, sente-se nas suas cartas uma procura intensa de serenar interiormente a dor da renúncia.