Mas havia mais. Em Paris, à noite, sozinho no seu quarto, antes de adormecer, não se lhe esboçara nas trevas, defronte da imagem puríssima de Leonor, a imagem sensual de Júlia toda desnudada sobre um leito de rosas?...E a roupa íntima da desaparecida que ele beijava sofregamente?...E o episódio das Folies? Essa prostituta de carne à mostra, de seios pintados, recordara-lhe a filha...Por isso a mandara sentar junto dele, ah! e por isso se esfregara, ignobilmente se esfregara, sobre o seu corpo debochado!...
Infâmia. Infâmia. Tinha-se consumado há muito o incesto... durava desde a morte da filha!...O quê!? Só desde a sua morte?...E a ponta do seio a enfolar a blusa? E a noite de luar? a noite de!?...Agora á que compreendia -ele agora compreendia tudo.
Mário de Sá-Carneiro