Poeta e tradutor. Oriundo das tertúlias surrealistas do Café Gelo, publicou as primeiras colectâneas em 1957 e 1958, mas excluiu esses títulos da sua bibliografia. É a partir de Insónias e Estátuas (1961) que o seu nome começa a chamar a atenção da crítica. Depois colaborou nos cadernos inaugurais de Poesia Experimental, tendo, em 1965, participado em Visopoemas, na Galeria Divulgação, de Lisboa. Mais tarde, num registo completamente diferente, publicará éclogas em folhas volantes, sob o pseudónimo de Pastor Lócio. Essa inflexão, dir-se-ia religiosa, porventura fruto da sua conversão ao islamismo, verifica-se a partir dos anos setenta. A «descoberta do Islão ocorreu durante uma longa temporada (1973-74) passada em Moçambique, na companhia da actriz Eunice Muñoz, então sua mulher. A partir daí, António Barahona que assinara os primeiros livros como António Barahona da Fonseca adopta alternadamente o nome de Muhammad Rashid. Afinal, «Já não me importa saber/ se sou António ou Muhammad:/ assino conforme o soro. E não causará estranheza o facto de, a pretexto da edição dos Versículos Satânicos, haver apoiado publicamente a fatwa de Khomeini contra Salman Rushdie.
A sua obra, caracterizada por um discurso de grande plasticidade verbal (qualquer que seja o ângulo de observação: onírico, erótico ou místico), ainda quando devedora de certa ortodoxia formal e ideológica, não é facilmente enquadrável nos padrões da sua geração. Esse desfasamento acentua-se com a publicação dos dois volumes de Aos Pés do Mestre (o Livro Primeiro em 1974 e o Livro Segundo em 1975). Foi Maria Estela Guedes quem argutamente fez notar que «o Poema passa a funcionar como texto sagrado, algo como o manual indiano do aprendiz do amor. É também autor de uma ambiciosa versão portuguesa do Bhagavad-Guitá / Poema do Senhor (1996). Mas traduziu inúmeras outras obras, designadamente para teatro, numa fase em que colaborou activamente com o Teatro Experimental de Cascais (Phèdre, de Racine, é um bom exemplo). Textos ensaísticos, quase sempre de índole teológica, encontram-se dispersos por várias publicações. - in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999