«A transparência e o absoluto não são lugares para o homem. Era preciso dar-lhe o toque para que se lançasse na grande viagem a que todos aspiravam. O grande êxodo da liberdade de consciência. Eu sempre soube que a razão não serve para ver. Esse, o equívoco da nossa aliança que transformou a liberdade de consciência em conquista, que fez de cada ponto de apoio no território uma fronteira a delimitar espaços de exploração; cada diferença que encontrava, uma exclusão. E o mundo tornou-se como a razão o escreveu: veloz, exponencial, crítico, memória acumulada de despossessão. [...] Em dois séculos, deu ao homem o maior abanão de que há memória. Fê-lo sair da crença. Mas, comas extraordinárias resistências que se acumularam nesse confronto, nem a razão sabe agora o caminho para diante, nem a crença poderá jamais abrir o caminho de retorno...»
«Descobri Maria Gabriela Llansol quando ela ainda era uma escritora conhecida apenas de um círculo restrito de admiradores. Do momento inicial dessa revelação guardo a estranheza de uma escrita que de tão «pura», nada poluída pelos lugares-comuns do discurso político ou jornalístico corrente, me parecia vir de «outra parte». A sua escrita é realmente original sem qualquer pretensão. E essa originalidade decorre, não do artifício ou do capricho, mas de um genuíno e irresistível impulso. Foi-lhe atribuída a reputação de ser uma escritora difícil, hermética, inacessível, adjectivos talvez justificáveis a quem se fique apenas por algumas páginas de qualquer um dos seus livros. Mas desajustados a quem mergulha na obra e a aceita única e irrepetível, algo de profundamente autêntico.»
Maria Gabriela Llansol