Na Índia antiga, o sexo não era considerado em oposição à espiritualidade. Ao acto sexual era atribuído um lugar de honra. Homens e mulheres estudavam o Kama Sutra e textos similares. Os templos estavam cobertos de baixos-relevos ilustrando as mais diversas posições sexuais. Não é de admirar que uma percentagem significativa dos poemas que sobreviveram às monções, às guerras e chegaram até nós sejam poemas eróticos. A experiência erótica completa, desde o desabrochar do amor até depois da sua consumação, está brilhantemente representada nesses poemas.
O "Caurapankasika" (os cinquenta poemas do ladrão de amor) é atribuído a Bilhana, um poeta que terá vivido na Caxemira no século XI d.C. Segundo a lenda, Bilhana terá sido contratado como preceptor da filha dum rei. Uma das disciplinas administradas era a arte erótica. Muito rapidamente o poeta e a princesa terão sucumbido a uma paixão avassaladora. Descoberto, Bilhana foi condenado à morte por empalamento. Consoante ia subindo os degraus que o levavam ao cadafalso, foi evocando a princesa e a paixão que os unia em cinquenta poemas cuja beleza era tal que a própria deusa Kali intercedeu junto do rei para que lhe perdoasse. Existe um grande número de manuscritos do "Caurapankasika", o que prova a sua popularidade. A versão aqui apresentada é a do norte da Índia, e foi realizada a partir de traduções em línguas ocidentais.
Os outros poemas que se seguem ao "Caurapankasika" foram na sua maioria extraídos do "Subhasitaratnakosa" de Vidyakara, do "Amarusataka" (Os cem poemas de amor de Amaru) e do "Sattasai" do Rei Hala.
(da introdução de Jorge Sousa Braga, que também traduziu os poemas)
O livro contém ainda várias ilustrações a cores e a preto e branco.